segunda-feira, 8 de dezembro de 2008

Precisamos de um Novo Paradigma

Por Carlos Humberto de Oliveira

Nas nossas caminhadas por todo esse estado do Espírito Santo, acompanhando e participando, com projetos, da discussão de vários temas: combate ao risco social de crianças e adolescentes em Fundão e em Cachoeiro de Itapemirim; Desenvolvimento Local da Comunidade Indígena Tupiniquim da Aldeia Pau Brasil em Aracruz; Desenvolvimento do Território da Cidadania Norte (17 municípios); Direitos Humanos e Cidadania de Comunidades Quilombolas no Sul (12 municípios); Qualificação social e profissional de jovens em 28 municípios; Toda a rede do Ciranda Capixaba-Petrobras, de Conceição da Barra a Presidente Kennedy; A luta contra a Instalação da Baosteel através do Fórum Litoral Sul (Guarapari à Presidente Kennedy); Fazer parte do Conselho Estadual de Recursos Hídricos, do CBH do Rio Santa maria da Vitória, etc., temos estado assustados com uma realidade que muitos desconhecem. Cito todo esse currículo, não por vaidade, mas para deixar bem claro que as preocupações que vou compartilhar estão fundamentadas em fatos e situações vividas. Portanto, não é “conversa fiada”!! Tanto que me coloco à disposição para apresentar as devidas provas.

Algumas dessas preocupações estão relacionadas com a postura passiva de uma maioria de organizações sociais e “ambientalistas” que estão trabalhando e olhando para si mesmas, sem demonstrar qualquer empatia ou simpatia com relação à situações políticas e econômicas que têm afetado outros seguimentos, organizações e pessoas à sua volta. Nos parece que há um “profissionalismo” exarcebado que simplesmente ignora a possibilidade de uma postura mais crítica em defesa, não de si mesmo ou de seu trabalho, mas dos outros, do próximo. A famosa frase” cada um por si, Deus por todos está sendo uma grande realidade.

Não consigo aceitar ser um cidadão ou um militante na área social, ambiental, educacional ou cultural que não provoque mudanças no sistema, que não seja um agente provocativo da reflexão em função do todo, da coletividade. A desculpa de que “estou fazendo a minha parte” já não cabe nesse momento da história, quando todos estão precisando de todos (veja o caso de Santa Catarina por exemplo). A preocupação de se fazer um discurso que não seja politicamente incorreto, para não ser visto de maneira negativa ou correr riscos de perder alguns benefícios estatais e privados, tem sido a postura de um grande número de pessoas. Isso só prejudica a coletividade, a população em geral. Temos conhecido, de perto, bem perto, de trabalhos e projetos e participações em colegiados, de pessoas e organizações que não estão ali por uma ideologia, mas por conta de seus próprios e egoístas interesses e para isso usam o tráfico de influência como mecanismo estratégico.

Esses dias mesmo recebemos um convite do MMA para participar de um evento de lançamento de projeto para plantio de mudas, tendo como um dos patrocinadores, a Vale. Ora, ora, plantio de mudas? A Vale deve muito mais a esse país e em especial ao Espírito Santo. Agora vai eu lá bater palmas para a Vale por causa do plantio de mudas. Brincadeira!! É isso que estou tentando dizer: precisamos ser mais autônomos nas nossas relações com o poder público e privado, não usando de possível função pública ou privada, para nos darmos bem, mas para o bem de todos, da coletividade.

A experiência no Fórum Litoral Sul, que ajudamos a organizar com mais dois companheiros, a Ilda e o Bruno, tem sido uma escola para nós. Primeiramente pelo tipo de pessoas que eles são, seríssimas e comprometidas com o interesse coletivo a ponto sofrerem vários tipos de represálias. Precisamos de mais gente assim!! Segundo pela forma como o Fórum tem sido conduzido, de maneira franca, aberta e transparente. Enquanto outros Fóruns só existem no papel, esse tem se fortalecido, especialmente agora com a vitória na primeira batalha contra a Baosteel. Essa luta que serviu de um divisor de águas naquilo que enxergávamos no terceiro setor, governo e empresas. Dentro do terceiro setor, recebemos pouquíssimos apoios expressos. Mas ouvimos muitos nos chamarem de loucos, que estávamos perdendo nosso tempo, outros não falavam nada, a maioria “ambientalistas”, pois davam como perdida a luta já que o “Grande Imperador” já tinha decidido em favor da Baosteel.

Temos consciência que ao enviar este texto, estamos nos expondo e correndo riscos, pois muitos poderão não entender ou não concordar, mas preferimos que os nossos amigos, colegas, simpatizantes e não simpatizantes do nosso trabalho, saiba quem somos e o que realmente pensamos, pois não conseguimos nos omitir diante desse quadro que ora apresentamos.

Grato pela atenção!!

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